32 anos da maior enchente da história de Capinzal
As fotos que hoje são destaques nos portais de notícias, as imagens que são relembradas pelas emissoras de TV, certamente não se comparam ao que realmente aconteceu na enchente de 1983. Tanto para as pessoas que perderam seus familiares na catástrofe bem como aqueles que tiveram suas casas completamente destruídas é um fato que jamais se apagará da memória de muita gente.
Os moradores ribeirinhos tiveram suas casas levadas inteiras pela força da água, junto com sonhos, aliados a tristeza, inconformidades aos milhares de moradores que tiveram que ser relocados. Muitos não tinham para onde ir e contaram com a solidariedade da comunidade. E depois, encontrar forças pra recomeçar, pois muitos perderam tudo o que tinham atingindo áreas comerciais, industrial e prestação de serviço.
A região mais atingida foi a Rua Beira Rio, onde hoje é a Área de Lazer Dr. Arnaldo Favorito, em Capinzal. Naquele local residiam cerca de 100 famílias distribuídas em mais de 90 residências. Havia também quedas de barreiras em rodovias do interior e as águas do rio estavam se aproximando das garagens do município de Ouro, onde estavam equipamentos e veículos.
O Rio Capinzal que corta o centro da cidade e desemboca no Rio do Peixe, foi sendo represado e suas águas subiam a medida em que subiam as águas do Peixe. Famílias, comerciantes e empresas prestadoras de serviços passaram a ter seus imóveis alagados também neste outro ponto da cidade, assim como as estradas e rodovias da região começaram a apresentar problemas.
As famílias desabrigadas eram alojadas em residências de amigos, parentes ou então no Ginásio de Esportes e no Salão Paroquial.
“A chuva caia constantemente sem trégua. Sobre a ponte Irineu Bornhausen, muita gente presenciava as águas levarem: troncos, árvores, madeira beneficiada, bujões de gás, casas, animais, colhidos rio acima. Pouco antes das 17 horas o sistema de telefonia foi interrompido, já não tínhamos comunicação local e nem com as demais cidades da região. Equipes de funcionários da CELESC subiam em postes e cortavam o fornecimento de energia. Às 18h15min as ruas centrais, Ernesto Hachamann e XV de Novembro começaram a alagar. Outras ruas centrais como: Dona Linda Santos, Dom Vicente Gramazzio, Narciso Barison e Maria Angélica Almeida naquele momento já estavam totalmente alagadas e a correria no início da noite era enorme. Em Ouro a situação não era diferente, principalmente nas residências e casas comerciais das ruas Felipe Schimidt e Jorge Lacerda. Pouco antes das 19 horas as duas cidades escureceram, era interrompido por completo o fornecimento de energia”, relatos do radialista Ailton Viel.
Com a chegada da noite e a cidade foi invadida por fracas luzes de lanternas e velas, que se moviam contrastando com os faróis de veículos, que endereçavam seus fachos de luzes em direção das águas. Medos e incertezas pairavam no semblante de todas as pessoas. Rumores surgiam de que a ponte Irineu Bornhausen, que liga Ouro a Capinzal, não suportaria a correnteza do rio e poderia ruir. Pouca gente depois das 21 horas, se atreveu a atravessá-la. A ponte pênsil, pouco abaixo, já estava destruída.
O centro da cidade estava todo alagado, a fúria das águas estouravam as residências da Rua Beira Rio. Rapidamente seguia rio as casas daquela localidade, quando se ouvia um coro com os que lamentavam, gritavam e choravam ao assistir aquela cena.
Nas esquinas das ruas XV de Novembro com Ernesto Hachmann, Praça Pedro Lélis da Rocha, largo do Terminal Rodoviário, Central Telefônica e Estação Ferroviária o rio subira quatro metros acima da pavimentação da rua.
Em Capinzal 76 residências desapareceram das margens do rio na rua Beira Rio, somadas a 116 famílias desalojadas. Centenas de outras famílias desabrigadas. Praticamente todo o centro comercial da cidade invadido pelas águas. Produtos e estoques perdidos. Sistema telefônico destruído, prejuízos incalculáveis.
VILA SETE
Para evitar que um dia fato semelhante viesse a acontecer, a Administração Municipal, tendo a frente o então prefeito Celso Farina adquiriu uma área de terra nas proximidades da chamada Estrada Velha, de propriedade do advogado Lourenço Brancher. Com material doado por uma empresa construtora de barragem, dezenas de casas pré-moldadas foram construídas no local. Nascia assim a Vila Sete de Julho, início de um processo de desenvolvimento de toda a região hoje chamada de Cidade Alta. O nome é uma recordação da data da maior enchente da história de Capinzal.
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